sábado, 15 de março de 2014

COPA PRA QUEM? Onde esta a mobilidade urbana e o desenvolvimento das cidade?



Cerca de 121milhões (61% dos brasileirxs) de pessoas no Brasil usam o transporte público como meio de locomoção, dessas, 95milhões (42% da população) o fazem diariamente no percurso casa trabalho, casa escola. Utilizar o ônibus chega a ser imprescindível para quem deseja locomover-se, ou seja, o transporte público estaá diretamente ligado ao livre exercício do direito de ir e vir nas cidades. Ou melhor, seria. As tarifas de ônibus (R$2,20 em Natal/RN) impossibilitam muitas vezes o direito de usufruir da cidade - Meu dinheiro não cresce em árvore, R$2,20 todo dia complica! Dai surge a necessidade de um transporte que seja realmente público e de qualidade para todxs.
Manifestações pela redução das tarifas e em defesa da TARIFA ZERO eclodiram por todo o país, virando essa, a principal pauta depois da revogação dos aumentos abusivos de 2013, que aconteceram em várias cidades do Brasil, onde os governantes apoiam os grandes empresários de ônibus contra o direito de um transporte público, 28 bilhões de reais são investidos nas obras da copa do mundo 2014, muito acima dos gastos do mesmo evento realizado no Japão, em 2002 e na Alemanha, em 2006. Deixando assim claramente em dúvida quais são as prioridades dos nossos governantes. Segundo o Governo Federal, grande parte do dinheiro foi investido em mobilidade urbana e construção/revitalizações de vias, que só se “realizaram” para ajudar o espectador da Copa do mundo a chegar adequadamente nos estádios, e depois voltar tranquilamente para os seus hotéis caros, se locomoverem até os aeroportos, e desfrutar de suas férias, por enquanto para nos, os natalenses, sobra um transito caótico, ônibus sucateados, redução de linhas, e muito pouco para se comemorar.  
Apontar os gastos exorbitantes como o único problema relacionado às obras de mobilidade urbana que não atendem a demanda da população e sim da FIFA e dos turistas que deverão vir ao país durante a Copa, seria esquecer das milhares de famílias pelo Brasil que estão sendo desapropriadas de maneira arbitrária e indevida, inclusive aqui em Natal como fizeram na Mor Gouveia e em breve pretendem realizar na Av. Moema Tinoco, na zona norte. Nem as áreas de proteção ambiental ficarão ilesas depois das obras do pró-transporte: O Parque das Dunas na Roberto Freire terá uma porção da sua área destruída para dar vez ao asfalto, assim como também uma parte do mangue da redinha.
 Dentro desse contexto da copa, a especulação imobiliária aumenta e expulsa os trabalhadores de baixa renda do centro urbano, que residem próximo de seus locais de trabalho, convívio, etc. levando-os às periferias que são totalmente desassistidas pelo governo e prejudicada quanto à questão do acesso e do direito a cidade, a ausência de uma politica de mobilidade urbana tem restringindo o acesso dos natalenses a sua própria cidade, culminando com a total exclusão e a impossibilidade do direito de ir e vir aos cidadãos que possuem condições financeiras baixas, excluindo cada vez mais os pobres de seus direitos, mas se não há direitos, teremos muita luta, por isso nos questionamos: Copa para quem? Onde estão os recursos da mobilidade? Se existiu 28 bilhões para obras que não saíram do papel, por que eles dizem ser impossível implementar a TARIFA ZERO?
Assim, ficamos com o questionamento: como se pode pensar uma cidade mais acessível sem um transporte que seja realmente publico e acessível a todxs? Como pensar em um desenvolvimento humano e social sem vias de acesso a cadeirantes e pessoas com deficiência motora? Onde estão as ciclos vias que cumprem um papel fundamental no desafogamento do transito e do próprio transporte publico, estimulando praticas mais saudáveis de locomoção? Onde estão as calçadas, para garantir aos pedestres um caminhar seguro? E os conselhos populares formados por usuárixs e trabalhadorxs, para definirem as demandas dos bairros e da utilização do transporte?
Até que essas demandas sejam atendidas, e a nossa cidade tenha uma verdadeira revolução em seu sistema de mobilidade urbana, garantindo a todxs o livre acesso ao direito de ir e vir, continuaremos lutando, convictos de que se a organização popular, nas ruas, é a verdadeira ferramenta capaz de trazer as conquistas que tanto sonhamos. 

Texto disponível no jornal Vuadora na Catraca

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